"Eu não escrevo poesia, não escrevo poema. Eu só desnudo minha alma." Fátima Amaral

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Refém antigo


Refém antigo, velho conhecido das dores artificiais, dos artifícios carnais.
Dos venenos corrosivos ao sangue, nas veias, injetados.
Das dores por escolha escolhidas, que com o passar dos anos passam a ser suas, como se tivesse sido assim por toda sua vida.
Velho conhecido dos becos e esquinas, se esquivando da luz, sempre a meia cara, a meia noite a meia morte.
Velho sujeito, ser adjetivo, "insubstancial", vivo, substância corrosiva, nociva. E ainda vivo.
Perambulando entre sãos e dementes não sabendo em qual dos dois fica contente ou ausente.
Sem ser parte de algo efetivo, apenas vivo.
Absurdamente vivo, ínfimo, inflamado fugaz, intrigado com trincheiras de teias artificiais tão nocivas, tão letais.
Atrás de atrasos de horas, sempre atrasadas, vivente andarilho, sem presente.
Pescador não de sonhos, mas de ilusões, de efêmeros sentidos, nunca de verdade sentidos.
Vitima de suas escolhas, refém antigo, tão antigo que se perdeu no tempo, sem nenhum alento, vivendo assim, um passo a frente um atrás, e não é dança é atraso.
Com as dores se entende, é delas o tempo todo, já conhece todas as suas mesquinharias e divide com elas todas as suas agonias. Velhos amigos.
É objeto, é dilacerante em si mesmo, ser titubeante, indireto, indigesto
Já foi vida, agora e nada mais que vestígio de alguém que nunca tenha vivido, uma máscara, quem sabe um feto.

20 comentários:

Dilmar Gomes disse...

Texto poético profundo, amiga Fátima.
Um abraço. Tenhas um lindo dia.

eder ribeiro disse...

Fátima, percebo que suas prosas são vicerais, é navalha na carne, forte e impactante, como se saisse de vc rasgando, e devido toda essa vivacidade textual é que torna a leitura gratificante. Parabéns. Bjos.

Unknown disse...

Fátima, boa noite!
Totalmente rendida à beleza do que escreve, brilhante!

Beijinho,
Ana Martins

luiz gonzaga disse...

bom é sempre saber que existe pessoas iluminadas quanto vc.seus pensamentos ,seus poemas ,vem de coração.a arte de poetizar so se torna plena quando o coração fala por si.é vc é isso.abraços

Sol disse...

o que dizes aqui sinto que foi arrancado do fundo da alma..
pois entrou direto na minha...
parabéns!

bjs.Sol

Anônimo disse...

"Velho sujeito, ser adjetivo, "insubstancial", vivo, " adorei essa frase do texto/poema, tem tantos significados, que por ela passeia o ser subjetivo.
Fátima,penso nesse texto/poema, como uma observação e percepção da solidão consentida.
Parabéns é lindo de ler e sentir.

Saudações!

Lilá(s) disse...

Mais um belo poema, com garra!
Bom fim de semana
Bjs

Marta Vinhais disse...

Somos todos vítimas das nossas escolhas...
Ou não....
Contudo, não devemos desistir da vida, ser mais que um vestígio...
Texto poderoso...
Gostei muito...
Obrigada pela visita ao meu blog.
Espero que volte...
Beijos e abraços
Marta

Giancarlo disse...

Felice giornata per te....ciao

A VIDA É UM ETERNO APRENDIZADO disse...

Olá!
Adorei seu texto, cheio de verdades.
Grande abraço
se cuida

Lufe disse...

Visceral, profundo, denso!
Ótimo!
Palavras que surgem aos borbotões, parecendo agua represada que rompe a barreira trazendo à tona tudo que encobria.....

bjos procê

Djalma CMF disse...

Seu texto é primordial para uma analise mais completa da vida, você foi fundo na emoção e com muita consistência poética. Parabéns moça, beijos.

Ingrid disse...

forte e intenso..
relendo..relendo..
beijos de carinho.

A.S. disse...

Fátima,

Um texto poderoso, onde as palavras nuas também nos despem, expondo todas as fraquezas, dilacerando todas as sombras.
Belissima a prosa poética com que te expressas!


Beijos,
AL

Eraldo Paulino disse...

Mesmo que eu não tivesse afim de ler teu poema, os primeiros versos me ganhariam: "Refém antigo, velho conhecido das dores artificiais, dos artifícios carnais."

Um poema pulsante, eu diria.

Bjs!

:: Mari :: disse...

Fátima querida,

Que belo poema, visceral e profundo.
Gostoso de ler, cheio de significados e bordões, adorei viu?

Um grande beijo

. intemporal . disse...

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. uma viagem . ao nanossegundo da poesia . pelo interior que é cave e beco . eco .

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. um beijo . fátima .

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Nilson Barcelli disse...

Um texto muito forte.
Li, reli e encantei-me.
Apesar de falar de certas dores...
Beijo, querida amiga.

Cria disse...

INtenso em sentimentos, amiga ! Beijos, desculpa a ausência.

Fernando Santos (Chana) disse...

Muito bom...Espectacular....
Cumprimentos