"Eu não escrevo poesia, não escrevo poema. Eu só desnudo minha alma." Fátima Amaral

domingo, 27 de junho de 2010

Espelho



Dentro de tua moldura vejo meu reflexo,
Sou tão parecida com ele
Como os dois lados de uma moeda,
Como o côncavo e o convexo.

Em mim vejo a beleza, a coragem e a atração,
Em ti vejo o medo, a insegurança e a solidão.
Luto em mim internamente
Na tentativa de sair do eterno luto,
Em ti o desdém de quem não quer mais lutar.

Procuro a identificação dos meus lados
E o que vejo são as diferenças,
Tão gritantes que assustam.
Em mim vejo a menina em ti vejo a idade,
Em mim os sonhos em ti a realidade.

Identifico apenas a igualdade em nossos olhos,
Não são mais vermelhos; resta apenas a tristeza,
Nesses olhares que tanto presenciaram.
São idênticas. Foram os anos que deixaram
Neles este ar cansado, triste de melancolia.

A dor das dores vivida, sentida e sentenciada.

Mas nem tudo está perdido, a alma em nossos olhos
Está identificada e com o passar dos anos,
E a permissão de novas vidas experimentadas,
O espelho nos trará a certeza
De nossas igualdades emolduradas.


quinta-feira, 24 de junho de 2010

Desencontro


Olha para o vazio.
Nos quatro cantos,
Nas paredes,
Na vida ausente,
No mundo.
Só vê vazio.
Vazio em todos os cantos.

O vazio retribui o olhar.
Cantos repletos de cantos,
Paredes sem branco,
Pessoas presentes,
Vida latente,
O vazio vê tudo.
Tudo em todos os cantos.

...Falta o encontro.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Unificados


Como tocar a alma de alguém
Cujo coração o céu levou.
Como transpassar o céu.
Necessito de asas para esse vôo.

Para encontrar o teu vazio.
Preencher uma metade ausente.
Dar vida a um lado frio,
A essa metade dormente.

Entrego-me a qualquer emoção.
Todo o sentimento para voar,
Alem da altura, além do que,
Nem você mesmo segura.

Do meio coração, faço-o inteiro.
Dando-lhe meu amor verdadeiro.
Una-se a mim, complete minhas asas.
Tire-nos do castigo. Voe comigo.

domingo, 20 de junho de 2010

Ato de Escrever


É sensibilidade, mentira e verdade.
É amor suave, é areia, é água e fogo.
Paz sublime leveza; cor de pureza.
Canto que se sente.
Ventre, entranhas, paredes,
Segredos de amantes.
E sede de lida.
De amanhã, hoje e ontem.
Coisas a fazer, verdades por trazer.
Um basta aos prantos.
E tesão, prazer, pudor, despudor.
Eu, você, pele e gosto. É gozo.
É liberdade. Preguiça.
É dor, angústia, raiva e sofrer.
Loucura, trauma, medo.
Desilusão, insegurança.
Sabedoria, invenção e segredo.
Ato, situação, sorte.
É chegada e partida.
Vida e morte.
Constante e inconstante.
São os quatro elementos
Separados e ao mesmo tempo.
E a distorção de Dali
Um ponto lá, uma vírgula ali.
É frio e calor, noite e dia.
É liberdade; asas da imaginação.
É noite, manha. É calma.
É tudo, é mais..... e muito mais.
Acima de tudo é alma...
É somente alma!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Pedra


Pedra pela rua chutada.
Pedra bruta no canto encostada.
Valor algum, nem olhada.

As lágrimas fizeram seu trabalho.
Incansavelmente,
Sendo elaborada.

Nas mãos da vida, retocada.
Ficou mais atraente,
Começa a ser notada.

Com a experiência,
Passa a ser lapidada.
O tempo dirá o valor,
Da pedra rara encontrada.

domingo, 13 de junho de 2010

Sementes


São sementes certas
Semeadas em terreno fértil
Quando nascem são diversas

Nascem amores...
Brilhando a sol
Com luares prateados

Nascem dores...
Fortes clamores,
Escuras cores.

Nascem alegrias...
Sorrisos fartos,
Abraços largos.

Nascem angústias...
Sem rumo, sem paradeiro.
Assustam.

Sinta seus sabores.
São colheitas precisas.
Frutos de dores internas.

No tempo certo.
Tenha calma.
A vida se fez semente,
No solo fértil da alma.        

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Oportunidade


Num momento de lucidez,
De estranha sanidade.
Acostumado com o insano,
Que já lhe parecia irmandade.

Opções lhe são dadas,
De que há jeito. A descoberta...
Momento de desfazer o mal feito.
De dar vazão à dor no peito.

Por perceber o amanhecer.
Olhar-se no espelho.
E dessa vez o reconhecer.

Nova sorte lhe foi dada.
Agarre-a com vontade.
Vá a passadas largas,
Caminhe rumo á estrada.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Sonhos Perdidos



Que bom seria que os sonhos perdidos fossem aqueles das noites não dormidas, aqueles que ao invés de sonhos, são pesadelos ou até mesmo aqueles que vendem em padarias e quando queremos não tem mais.
Não! Os sonhos perdidos que me incomodam são aqueles que fazem parte de estatísticas, de cálculos, contas e gráficos que, de nada adiantam, porque não voltam mais.
São os sonhos de famílias destruídas por acidentes de trânsito, quebrando uma aliança, quebrando um pai, uma mãe, um filho. Deixando aqui alguém com os planos e sonhos perdidos.
         Aqueles das crianças que vivem em orfanatos, que perdem a infância sonhando com o que deveria ser óbvio o direito de terem pais. Das crianças abusadas, maltratadas por maníacos, psicopatas, desalmados (leia-se monstros, mas não aqueles de historinhas infantis).
Os sonhos perdidos de famílias inteiras destruídas pelo uso de drogas de alguém da família, sendo ele o menos sonhador. É o que mais sofre, porque até descobrir que tem uma doença e não somente uma “viagem” demora anos e dá-lhe destruição de sonhos pessoais e de todos ao seu redor.
Os diversos sonhos de amores perdidos; Shakespeare teria muito que escrever. Um Romeu e Julieta à cada esquina.
E o seu sonho perdido qual seria? Eu tenho alguns, mas não voltam mais, perderam-se nas estatísticas.
Mas pior ainda que ter os sonhos perdidos, porque se perdemos uns, outros nascem (temos essa capacidade de nos reconstruir). O pior é isolar-se da realidade, do mundo, viver à parte como um fantasma de si mesmo e perder a beleza do sonhar. O pior é não sonhar! Não sonhar é perder a vida.

                                                           


                                                                         (talvez.... uma crônica)

sábado, 5 de junho de 2010

Fetiche


A tentação do mistério.
Desejo do proibido.
Desperta em mim libido,
Quase sem sentido.
Em todos os sentidos.

Sussurros no ouvido,
Sede de boca, de beijo.
Salivas profanas,
Profanando o corpo.

Não controlo, entrego-me.
Chama de fogo queimando.
Segredos.

Segredos libertos.
Momentos de prazer,
Situações perigosas.
Não confesso.

Não me segure,
Sou água escorrendo,
Entre os dedos,
Sem controle.

Em certos momentos
Deixo o certo de lado
Meu nome é pecado.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Magia


Na trama das tranças a menina dança
Na trama das teias enrosca-se alheia

A entrega a desnorteia.
À luz da lua cheia
O desejo desencadeia.

Sentindo o corpo reluzente.
Nesse rodopio envolvente.

Sob a pele quente dança,
o sangue em suas veias.

Dançando ao fogo é pagã.
Agradecendo aos céus é cristã.

Envolvida num abraço
Que o mundo lhe consente.

Faz dessa dança mágica
Um momento diferente.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Renascimento




No silêncio noturno, ouvindo os barulhos do mundo.
Sua voz devolvida em ecos, na conversa com as paredes.
Uma delas lhes diz que esta na hora de sair.

Seguir o único caminho que só se pode seguir sozinho.
Deixar para traz a estrada imaginária do mundo
Sentir a realidade, ser mais intenso, mais profundo.

Sentir a vida de verdade, ter novos desafios.
Basta criar coragem pra atravessar o rio.
Transpassar a janela dos pensamentos.
Deixar o vento levar os ressentimentos.

Silenciar os barulhos internos,
das conversas e pensamentos.
Sair das frias paredes do isolamento.
Entregar-se à vida nesse momento.

Sente dentro de si, renascimento.
E ao abrir a janela da realidade
Não é que vê luzes no firmamento!