"Eu não escrevo poesia, não escrevo poema. Eu só desnudo minha alma." Fátima Amaral

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Tecido

Em varal estirado, de arame farpado.
Rasgado aos poucos, retalhos.
Dividido em espaços.

Aos quatro cantos pousam os trapos
Tecido de algodão...
Embaraço,
Tentando juntar pedaços.
                                 
Pedaços de linho
Desfeitos, fiapos
Fragmentos pelo caminho

A vontade de pano,
Novamente ser.
Desfazer nós.
Novamente tecer.

Em máquina que pulsa, fiar.
Montar a trama, refazer a teia.
Prover fios para aquecer.
Tecido apenas ser.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Horas distraídas

Deitada no tempo
Na distração das horas paradas.
O presente oprimido
me pergunta...

E esse tempo de antes
que passa o tempo todo
no dia inteiro do hoje.
E esse que vem depois
que se une em cumplicidade
com o anterior.
E para não me deixar esquecer nunca?

sábado, 24 de setembro de 2011

Despir-se

Aprisiona a essência.
Em nome do efêmero do corpo
Do fulgás do mundo.

Veste-se com roupas que não lhe cabem,
Pés aprisionados, desconforto indesejado,
Escolhe uma mascara para mais esta farsa.

Ri como se houvesse graça,
Se esforça para sentir o porquê de estar ali
Vazio por dentro, mero passatempo.

E, dentro em silêncio.
Os gritos lhe falam ao ouvido
Está tudo errado
Sem sentido.

Nessa fração de segundo que sente do mundo.
Ouve o próprio coração e canto
Entende o porquê de tanto desencanto.

Caminha em direção ao ar
Precisa respirar.
Despe-se de tudo, joga máscara ao vento
Chama do âmago um sorriso
Livra-se de todo os artifícios.

Há ainda um incômodo febril.
Faz uma oração em silêncio
Aproxima-se do que há de céu dentro de si.

E percebe a alma esta vestida.
Desnuda-a. Desnuda-se.
Sente-se verdadeira
Sorri serena, enfim.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Estreitos

Havia um veio de rio
Entre aquelas colunas.
Havia uma fina veia
Entre as lacunas.

Havia noites eternas
Sem dias.
Dias que eram noites
Constantes.

Pensamentos vagos
De meras vogais e consoantes.

Havia um espaço
Menor que o desejado,
Fazendo com que sentisse
Pés e mãos calejados.

Apertar-se entre os apertos
Era preciso.
Nesse fluxo resumido
Sem noção e sem sentido.

E não havia outro jeito, senão,
esperar esses estreitos
Bombearem sangue no peito.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Única(s)

Apesar de
meu olhar introspectivo
com o mundo.
Sou tantas.

E nesse ser, de tantas,
Preciso me espalhar
De forma bela, torta,
certa, errada,
de mentira, de verdade
Não importa.

Apenas sentir-me; vale.
E são nelas
Nas palavras
Que me jogo

Ben vindas
Tantas vezes ditas.
Dito os mesmos
sentimentos meus.
E sempre tão diferentes.

Assim como os arrepios,
Que a cada vez me parecem
únicos.

Transparecer-me.
Para ser!
Sim.
Senão alguma de mim
Me mata.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Silêncio ruidoso

Não venha me dizer
Para dividir vida contigo,
Minha solidão me basta
Já me ocupa muito espaço.

Não te quero preso...
Dentro da minha liberdade
Dentro da minha idade
Do meu silêncio.

Desse meu silêncio
Que é mais ruidoso
Que minhas palavras.

Não o divido
Ocupo tempo demais...
Comigo.

domingo, 4 de setembro de 2011

Na Janela

Se penso que observo, me engano,
Vejo o tempo atento me olhando,
A vida me observando,
A luz e a escuridão cada uma em sua vez,
Vendo minhas marcas,
Uma observa outra oculta.
A poluição me vê cegando.
Me olham, somente mais uma.
Em lentidão oposta as suas velocidades.
E o tempo diz
Vai ficar ai quanto de mim, mais uma década?
E eu ignoro o tempo.
E a vida pergunta, sou assim para você?
Acho-te sem graça.
E não há movimento meu, nessa silhueta.
Eu não posso olhar os que me olham
Estou muito ocupada me observando por dentro,
Perdendo fora de mim vida e tempo.


                                 ***
Saudades de todos!!!