"Eu não escrevo poesia, não escrevo poema. Eu só desnudo minha alma." Fátima Amaral

domingo, 30 de maio de 2010

Acabou


Dava para ver os cacos
Voarem para todos os cantos,
Deixando feridas marcadas.

Dava para ouvir o barulho
Da mágoa escorrendo,
Entre os cacos pela escada.

Dava para sentir o gosto
Amargo das palavras decretadas,
Envenenando os sentidos.

Dava para tocar o tempo,
Dizendo que havia acabado,
Que o que foi quebrado,
Já não podia ser juntado.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Vem...


Vem...
Tire os meus medos
Desvende os meus segredos
Chegue clandestino
Se aposse do meu destino

Instala-se em meu peito
Deixe-me ser ar
Deixe-me à vontade
Com vontade de me entregar

Faça-me tua
Não deixe só o corpo
Mas a alma nua
Deixe-me em torpor

Faça-me enxergar no escuro
Transpirar, suar, cansar
Tire-me do mundo
Por alguns segundos

Deixe-me encantada
Sentindo tua ausência
Só não me prenda
Não tire minha essência.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Uma peça em dois atos


Na trama hábil e desmedida
No traçado perfeito das teias.
A peça da vida, às vezes
É somente assistida.

Narrada aos avessos
Expõe sua dor nua.
Afronta seus desejos
Não sabe se é tua.

Mais um ato de desprezo.
Como marionete se sente.
Todos no lugar assistem,
Mais um lamento triste.

Mas existe um momento de escolha...

Na revolta contra as teias
Como vísceras são arrancadas.
Não se entrega mais ao jogo
Basta de vida manipulada. 

Descobre uma verdade,
Sua vontade é o seu poder
Descobre o segredo...
Vencer o medo!

Dá o primeiro passo.
Chega de tanto nada.
Pega o que é por direito teu.
Liberta-se de fato.

Ao longe se ouve, aplausos pelo seu ato.

sábado, 22 de maio de 2010

Inexistência


Num olhar que pouco via,
No susto de perceber, a vida
num quadro dependurada.

Acordou com um resto de noite
Que pairava ainda no quarto
Brigando com o dia.

Pela janela vazia,
Viu que o horizonte oprimia.
Ensaiou levantar, desistiu.

Para andar, nenhum passo havia.
Era só uma sombra...
Que mal sabia que existia.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Nunca é tarde


Mergulhe na alma.
No conflito e na calma.
Desmonte as armas.

Quebre os medos.
Descubra os segredos.
Perceba os vazios.

Tome o comando.
Esqueça os desmandos.
Não pare tão cedo.

Se jogue mais fundo.
Esqueça a maldade.
Sinta a vontade.

Desconheça os receios.
Encare os anseios.
Pegue o teu mundo.

Oriental


No sol nascente
Tuas raízes, teus antecedentes.
De olhos puxados
Brilhantes, confiantes.
Domina a quem orienta,
Palavra dita,
Palavra obedecida.
Jamais, a vi vencida.
O que vence é a alma
Que a fez submissa
Com peculiar prazer pela dor,
À seu dono enfeitiça.
Tem fetiche em dobro, é gueixa.
Oriental é pouco...
És... orientalíssima!
                              (para minha amiga ori)

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Resposta do tempo


No silêncio que era som
Som que tanto era
Lembranças do passado
No presente só espera.

Espera e anseia
Sem comparação ou igualdade.
No peito, uma vã esperança,
Talvez de liberdade.

Liberdade que não sente.
O barco está dormente,
A corrente enferrujada,
A âncora pesada.

Aguarda em silêncio vazio
Uma resposta do vento,
Na intenção de enganar o tempo;
Sem ver que o tempo o aguarda.